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quarta-feira, 26 de março de 2014

Geoff Johns e o Lanterna Verde


Todo personagem tem o seu "escritor definitivo". Aquele que mexe com sua história, costura coisas antigas com coisas novas, cria milhares de conceitos que serão usados pelos seus sucessores e acrescenta mais do que qualquer um à mitologia do personagem. E no Lanterna Verde, Geoff Johns é esse cara.


Nos últimos tempos andei lendo muita coisa do Lanterna Verde, desde que Geoff Johns assumiu o título até a sua última edição, que aliás saiu esse mês pela Panini aqui no Brasil. O roteirista ficou nada mais nada menos que NOVE anos escrevendo as histórias do gladiador esmeralda, e durante esse período praticamente recriou o herói.
Johns é para o Lanterna Verde o que Frank Miller foi para o Demolidor, e o que Brian Michael Bendis foi para os Vingadores. Um escritor que revitalizou e transformou em sucesso toda uma franquia.
Vou falar um pouco sobre como Johns expandiu o universo desse personagem, citando as sagas que acho mais importantes durante esse seu longo run e suas decisões que tornaram novamente o Lanterna Verde um dos personagens com mais fãs pelo mundo, e uma das revistas em quadrinhos mais vendidas.
Quando assumiu a revista do personagem, as coisas não estavam boas para a tropa dos lanternas. Hal Jordan já não era mais o Lanterna Verde há anos, desde que enlouqueceu dominado pelo medo e matou todos os seus outrora aliados, e o Lanterna Verde já não era um personagem vendável há muito tempo.
Portanto, o primeiro pensamento de Johns quando se viu à frente dos roteiros do personagem não poderia ser mais simples: Trazer Hal Jordan de volta. O maior de todos os Lanternas precisava retornar. E o interessante é a forma como isso foi feito.

Lanterna Verde: RENASCIMENTO


Aqui, para explicar o surto de Hal Jordan que o havia tornado um vilão nos anos 90, foi plantada a semente do que Johns viria a trabalhar mais tarde: as entidades dos espectros emocionais. Aqui foi introduzido Parallax, a entidade amarela do medo, que havia dominado a alma de Jordan e o induzido a cometer todos os seus atos de vilanismo na época da saga Crepúsculo Esmeralda.
Tira-se a responsabilidade de Hal Jordan, e por consequência cria-se uma nova e poderosa ameaça. Tudo é costurado de uma forma satisfatória e plausível, sem forçação de barra. A luta pessoal de Hal para se livrar de Parallax e recuperar seu corpo e sua alma é bem desenvolvida durante toda a história, enquanto o roteirista vai costurando acontecimentos do passado do Lanterna com ideias novas, tudo muito bem elaborado e com sentido. Quando Hal Jordan finalmente retorna ao seu status de Lanterna Verde, não há estranhamento para o leitor, que a essa altura já estava torcendo por ele. O timing é perfeito, é uma estréia sensacional de Geoff Johns, que já estava mostrando a que veio. Além do retorno de Hal, são marcantes  nessa história: Guy Gardner também voltando a ser um lanterna verde, Kyle Rayner e Ganthet sendo os responsáveis pelo plano de trazer Jordan de volta, a participação do Arqueiro Verde, e o sensacional soco que Hal dá na cara do Batman, que estava sendo um pé no saco a história inteira.


A Guerra dos Anéis (Sinestro Corps War)


A minha saga favorita de todo o run do Johns. Sinestro, se recuperando em Qward desde sua derrota nas mãos de Hal e Kyle em Renascimento, cria a sua própria tropa, a Tropa Sinestro. Munido de um exército de lanternas amarelos que dominam o espectro emocional do medo, Sinestro marcha para Oa, começando uma guerra contra os Lanterna Verdes. O interessante é que na época que essa história foi lançada, a DC estava com uma de suas mega-sagas em andamento, mas os fóruns de discussão pela internet só falavam de Sinestro Corps War, dizendo ser "a saga que vale". Muito bem estruturada e conduzida, a saga envolve vários personagens em sua reta final e conta com momentos inesquecíveis como a luta do Superboy Primordial contra Sodam Yat, Sinestro contra Hal Jordan e Kyle Rayner de novo, e Ganthet finalmente revelando o que se trata a Noite Mais Densa.


A Noite Mais Densa e as Tropas coloridas
A última parte do que o próprio Johns chama de "Trilogia Lanterna Verde", da qual fazem parte Renascimento e Guerra dos Anéis. Durante as sagas e arcos anteriores o roteirista já vinha enchendo de indícios e pistas sobre a profecia da Noite mais Densa e sobre a guerra que envolveria as 7 tropas, e finalmente em 2010 ele contou essa história em forma de uma mega-saga que envolveu não apenas o universo do Lanterna Verde, mas todos os personagens DC.

Aqui  temos Lanternas de várias cores lutando contra o exército de desmortos do vilão Mão-Negra, que utiliza uma bateria e anéis negros para trazer de volta heróis e vilões mortos em forma de zumbis.
A ideia dos lanternas coloridos, com uma tropa para cada cor do espectro emocional foi uma novidade que trouxe ainda mais riqueza para esse vasto universo, e um conceito que pôde ser explorado por muito tempo e de muitas formas diferentes. Descobrimos que cada cor tem a sua Entidade, e que assim como Parallax é a do medo (não falei que a ideia das entidades havia sido plantada lá em Renascimento?) e Íon é a da força de vontade, as outras tropas possuem a sua entidade responsável por uma emoção do espectro emocional. Personagens memoráveis foram apresentados, como Larfleeze, Índigo e Santo Andarilho, abrindo um leque de possibilidades para cada um desses personagens e suas respectivas tropas. Muita gente não gosta da ideia das tropas coloridas e acha que isso limitou as histórias, que ficaram sempre focadas em guerras com esses personagens. Não concordo. Vieram arcos muito bons dessa fase, e Johns criou uma história interessante para cada uma das tropas, como foi o caso da interessantíssima Tropa Índigo.


Os Novos 52 e Sinestro 

A série do Lanterna Verde foi uma das poucas que não foram reiniciadas pelo Reboot da DC Comics, tendo a sua primeira edição partindo imediatamente de onde havia parado na série anterior, com Sinestro se tornando novamente um Lanterna Verde.
Sim, o maior "vilão" do universo do Gladiador Esmeralda e responsável pela guerra dos anéis, onde atacou Oa com seu exércitos de lanternas amarelos, foi escolhido mais uma vez por um anel se tornando um Lanterna Verde, enquanto Hal Jordan se encontrava banido da Tropa. E é com essa inversão de papéis que Geoff Johns começa a série do Lanterna nos Novos 52, dando um papel muito maior a Sinestro e transformando o outrora vilão ao grande protagonista moral dessa fase.

É interessante ver o quanto o roteirista trabalhou o personagem durante a sua passagem nesses nove anos em que esteve à frente da revista. Sinestro deixou de ser o antigo inimigo cabeçudo e chato para se tornar algo maior. Johns deu uma dimensão enorme ao vilão, com um senso de justiça e moral próprios que lhe dão uma complexidade sensacional. Sinestro deixou de ser um vilão e se tornou algo mais parecido com um anti-herói. Ele é alguém que tem os seus princípios e ideais, e que age por eles aja o que houver, passando por cima do que for. Sinestro ainda acredita na tropa dos lanternas verdes, apesar do seu ódio pelos guardiões. O amor pela tropa é algo que ele ainda divide com Hal Jordan.
Aliás, um outro ponto muito legal nesse Sinestro construído pelo Geoff Johns é a sua relação de amor e ódio com o Hal, que vai de uma amizade antiga a uma desconfiança que nunca termina. Inclusive existe um diálogo em uma das edições em que Sinestro fala que durante sua vida só considerou duas pessoas como seus amigos: Abin Sur e o próprio Hal Jordan.
Infelizmente, após dez anos cuidando desse universo, Geoff Johns finalmente deu adeus ao Lanterna Verde na edição de Green Lantern #20 com a última parte da saga A Ira do Primeiro Lanterna. O interessante é que Johns saiu com chave de ouro, fazendo algo completamente incomum no mundo das histórias em quadrinhos americanas: Um final.
Após o primeiro Lanterna ser derrotado, a história avança vários anos no futuro, onde é contado a um recruta o que aconteceu com cada um dos Lanternas. É interessante ver coisas como um velho Guy arrumando briga em bares no espaço, Hal Jordan casado com Carol Ferris, John Stewart senador dos EUA e um idoso Sinestro de volta à tropa dos lanternas verdes, sendo responsável pelo livro da história de Oa e se referindo a Hal como o maior de todos os lanternas verdes. Um final épico e digno do magnífico run de nove anos de Geoff Johns.

Hoje o Lanterna Verde é o meu personagem favorito da DC Comics, e o meu segundo favorito em se tratando de super-heróis em geral, perdendo apenas para o Homem-Aranha. Mas o interessante é que não sou fã apenas de Hal Jordan. Quando digo Lanterna Verde, me considero fã de todos que levam essa alcunha. Sou fã de Hal Jordan, Guy Gardner, Kyle Rayner, John Stewart e até mesmo de Sinestro, que se tornou para mim um dos personagens mais bem construídos dos últimos tempos.

Ser fã de Lanterna Verde é ser fã de todo um universo e não apenas de um personagem. E o responsável por isso tem nome.


Obrigado, Geoff Johns.