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sábado, 8 de março de 2014

O RoboCop de José Padilha


É engraçado que a segunda crítica de um filme aqui no blog seja justamente de um remake de novo, mas o que fazer se é a nova tendência de Hollywood? Além do mais, não poderia deixar de falar do RoboCop do nosso querido Padilhaço.
                                                                                                                                                                   
Desde que fiquei sabendo que o José Padilha havia sido escolhido para dirigir o remake de RoboCop, fiquei muito empolgado. Primeiramente por ser um brasileiro conseguindo seu espaço no cenário mundial, e segundo porque gosto muito de Tropa de Elite 1 e 2. Principalmente o segundo.
Fui assistir o filme com uma expectativa bem alta e curioso para saber o que o cara tinha feito com o policial do futuro. Mas uma coisa eu tinha certeza... o filme teria alma. E simplesmente cumpriu minhas expectativas. De policial o Padilha entende.

Procurei não comparar com o clássico de 1987, mas em se tratando de uma refilmagem isso é algo que acaba se tornando inevitável. Porém é aí que está o grande mérito do filme. Ele funciona como um filme completamente novo, e também respeita muito o material antigo. De todos os remakes já realizados, ouso dizer que esse é o mais bem trabalhado, aquele em que eu vi mais dedicação e vontade de fazer um bom trabalho. E não estou falando só da produção e da direção não. Todos os atores estavam muito bem e conseguiam transmitir essa vontade de realizar algo bem feito.

Aliás, um belíssimo elenco por sinal. Michael Keaton, Samuel L. Jackson e Gary Oldman são alguns dos nomes que estão no filme. Por falar nisso, eu tinha pouca informação quando fui assistir e não sabia por exemplo que o Gary Oldman estava no elenco, o que para mim foi uma grata surpresa. Não sei se é porque sou um grande fã de longa data do ator e isso pesou na minha opinião, mas simplesmente achei que ele foi o melhor do filme. Seu Doutor Dennett Norton é um personagem complexo, apaixonado pelo que faz e um cientista completamente crível. Para mim o personagem mais humano da película, com todas as nuances de um homem fissurado pelo trabalho muito bem trabalhadas.



O plot principal ainda permanece o mesmo, afinal não há muito o que mudar a respeito da história de um policial que se torna um robô que combate o crime na cidade de Detroit. Porém o roteiro tem sua própria essência e o seu próprio motivo.
Alex Murphy (Joel Kinnaman) é um policial íntegro que tenta junto com seu parceiro acabar com uma trama de vendas de armas a criminosos sendo feita por policiais. Infiltrados, os dois acabam sendo descobertos e seu parceiro é baleado.
Mais tarde, em uma represália, os criminosos promovem um atentando contra a vida de Alex, explodindo seu carro.
Em meio a isso existe Raymond Sellars (Michael Keaton), CEO da empresa OmniCorp, que projeta robôs de combate ao crime e os implanta em vários países, mas que enfrenta resistência no próprio EUA devido a uma lei que proíbe o uso de máquinas fazendo o trabalho de policiais, pelo fato de não terem emoções e consciência . Disposto a trazer a opinião pública para seu lado, Sellars e sua equipe de marketing pensam em uma estratégia: mesclar uma mente humana a uma máquina, criando o policial ideal.

Assim, o acidente de Alex cria a situação perfeita para Sellars, que incumbe o Doutor Dennett Norton (Gary Oldman) de explicar para a esposa de Alex (vivida pela atriz Abbie Cornish) o quão perigosa é a situação de Alex e os benefícios que ele teria caso ela aceite que a OmniCorp o use como cobaia. O resto todo mundo já sabe.

Algo que eu acho que o filme trabalhou muito bem a seu favor foi a respeito da censura. No filme de 87 temos uma censura 18 anos, com direito a palavrões, peitos, putaria e muita violência explícita. Aqui temos uma censura 13 anos, o que exige um certo jogo de cintura. E nesse quesito o filme não decepciona. Padilha usa mais ou menos o mesmo método usado em Tropa de Elite, um filme violento que consegue ser chocante sem precisar apelar para cenas que exijam uma censura maior. E se tem algo que esse filme consegue é desenvolver cenas chocantes. A cena em que Alex descobre o que sobrou de seu corpo é simplesmente angustiante e desesperadora. Aliás, é necessário destacar aqui a excelente atuação de Joel Kinnaman, que consegue nos transmitir todo o horror da descoberta de seu personagem em uma cena em que tudo que temos como parâmetro para sua atuação são as expressões faciais. E ele convence. Duvido alguém não se desesperar junto com Alex Murphy nessa cena em questão.
Uma coisa que também me chamou muita atenção nesse filme, é o quanto ele é humano. Não apenas por toda a sequência da descoberta de Alex e sua lenta e dolorosa adaptação à sua nova condição, principalmente no que diz respeito à relação com sua esposa e filho, que acaba sendo radicalmente abalada devido a sua situação. Mas também pelos detalhes. E um que eu gosto de destacar é o da mão humana de Alex que é deixada intacta mesmo em seu novo corpo. Isso dá um toque humano incrivel ao personagem. Em meio a toda aquela situação, você para pra pensar que pelo menos ele ainda vai poder tocar o rosto do seu filho ou afagar sua cabeça. Pequenos detalhes que não estão ali em vão, e que dão alma ao filme.



É legal também perceber a assinatura do diretor nesse trabalho. Aquelas pequenas situações em que você percebe o dedo dele. Em diversos momentos eu me lembrei de Tropa de Elite, como na cena inicial com o tiroteio, a trama da corrupção dentro da polícia, e até mesmo na  piadinha do Michael Keaton quando diz: "Eu quero ele na cor preta".
Mas sem sombra de dúvidas sua maior assinatura é o clima de crítica social que ele coloca nos filmes, e aqui o que ficou mais claro para mim foi o fato de mostrar novamente como a mídia pode ser manipuladora e influenciar nas massas. O personagem de Samuel L. Jackson, Pat Novak, é um apresentador de TV sensacionalista que abusa de frases de efeito, discursos de defesa à polícia e opiniões exageradas, manipulando a edição do programa de forma a beneficiar o lado que mais lhe agrada. Para quem não lembra, já vimos um personagem muito parecido em Tropa de Elite 2, o corrupto Fortunato, interpretado pelo ator André Mattos, e que lembra muito um certo apresentador brasileiro.


Saí do cinema satisfeito e feliz. Saí com a sensação de ter assistido um ótimo filme, e um certo orgulho pelo bom trabalho realizado pelo compatriota José Padilha. Ele conseguiu realizar um ótimo filme, que respeita o original e tem sua própria alma. Um filme que não tenta ser o que não é.
Em meio a tantos remakes esquecíveis e desnecessários que só visam dinheiro, eis que surge RoboCop, um filme que com certeza assistirei muitas outras vezes e que pretendo ter na minha coleção, ao lado dos antigos.

Mal posso esperar para ver qual a próxima que o Padilha vai aprontar lá fora.