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domingo, 27 de abril de 2014

Ciclope estava certo


Líder. Estrategista. Revolucionário. O crescimento de Ciclope ao longo dos anos foi um dos pontos altos das histórias dos X-Men, sendo muito bem trabalhado por todos os roteiristas que passaram pelo título. Passando por um período de ascensão, queda e redenção, Scott Summers não perde suas convicções e mostrou ser o líder que os mutantes precisam e merecem.

Para entender onde Ciclope está hoje em dia, é necessário lembrar onde tudo teve início. A evolução do personagem começou ainda na época do roteirista Grant Morrison, quando o escocês assumiu o título New X-Men e resolveu ousar duplamente na revista. Primeiro trazendo a ex-vilã Emma Frost para o lado dos mocinhos, e depois a colocando para ter um caso extraconjugal com Scott, que era então casado com Jean Grey.

E realmente é verdade o que dizem, de que é a mulher que faz o homem, porque a mudança em Ciclope foi notória a partir desse acontecimento. Era como se antes ele vivesse escondido sob a sombra de Jean Grey, que roubava todas as atenções e o impedia de crescer. Com Emma, uma mulher disposta a colocá-lo para cima, Scott pôde finalmente ter o seu espaço e agir como o líder que sempre esteve destinado a ser. Apesar do estopim para o que Scott viria a se tornar ter acontecido nessa fase do Morrison com o início do relacionamento com Emma, ainda não foi nessa época que o personagem começou a ser caracterizado como um grande líder e estrategista, sendo isso algo que só começou a ser trabalhado depois, em Surpreendentes X-Men de Joss Whedon. Nessa fase (uma das melhores que já li dos mutantes), Scott não está livre apenas da influência de Jean, mas também de Charles Xavier. O antigo mentor dos X-Men, após uma série de revelações sobre suas mentiras ao longo dos anos, acabou perdendo a confiança de seus alunos e abandonou o Instituto. Foi a oportunidade para levarem Scott além. E Whedon aproveitou. Aqui finalmente nós estávamos começando a ver o personagem se tornar o líder que foi treinado para se tornar desde a infância.

O Ciclope de Joss Whedon tinha atitude, tomava as decisões que fossem necessárias e fazia qualquer coisa para proteger os seus. É memorável a sequência em que ele está sem os seus poderes e usa uma pistola para eliminar os inimigos. No segundo arco de  Surpreendentes X-Men, que envolve uma ameaça alienígena, é onde vemos a veia estrategista de Ciclope em sua plena forma. O plano de Scott é um dos pontos altos da HQ, e onde o personagem se consagra como um dos maiores estrategistas do universo Marvel. Mas essa fase também foi só o começo do que ainda viria pela frente para o mutante.

Pois logo em seguida tivemos a saga Dinastia M, em que a Feiticeira Escarlate (mais surtada do que nunca) reduziu a população de milhões de mutantes a cerca de apenas 100, proferindo uma única frase: Chega de Mutantes.  
Foram dias negros para a raça mutante. Mais odiados e temidos do que nunca, agora se tratavam também de uma espécie em extinção. Um povo que sempre sofreu preconceito e segregação agora se encontravam completamente sozinhos em uma realidade em que mutantes simplesmente não nasciam mais. Aqui começa uma nova fase muito interessante da personalidade de Scott Sumers e que viria a ser muito trabalhada posteriormente, pois é quando ele se torna um homem de fé.
O nascimento de uma nova mutante depois um longo tempo sem nenhum registro desde o Dia M é encarado como uma espécie de milagre, e traz situações adversas para os X-Men. O fato é que existem duas linhas do tempo de futuros possíveis para a criança: em uma delas, defendida pelo mutante Cable, ela é encarada como uma Messias e se torna a salvadora da raça mutante, restaurando o gene X adormecido e salvando toda a espécie.

Porém, segundo Bishop, no futuro da sua linha cronológica ela cresce para se tornar uma espécie de Anti-Cristo que causará milhões de mortes, levando a uma intensa perseguição a todos os mutantes. E fica com Ciclope a decisão sobre o que fazer com a bebê.
Disposto a acreditar que ela pode realmente ser uma messias, ele a batiza de Esperança Summers e a envia para o futuro com Cable, onde a menina vai ser treinada e protegida até o dia em que estará pronta para retornar e cumprir o seu papel.
Enquanto isso, cabe a Scott resolver o problema dos mutantes, que além de serem reduzidos a tão poucos, ainda são assassinados por grupos racistas deixando a espécie em uma frágil situação de extinção.
Então, em uma atitude que se tornou um divisor de águas nas histórias dos X-Men, Ciclope decide fundar a sua própria nação mutante: a ilha Utopia, usando o asteróide M, antiga base de operações de Magneto na época em que ele ainda era o principal antagonista dos X-Men. Reunindo toda a espécie nesse santuário seguro, Ciclope conseguiu fazer o que nem Xavier e nem Magneto conseguiram: unir a espécie mutante. A vertente que Scott segue é diferente da que era utilizada por ambos. Magneto pregava a supremacia mutante e eliminação da raça humana, enquanto Xavier sonhava com uma coexistência pacífica entre as duas espécies. Uma utopia, algo que jamais poderia ser alcançado em mundo onde mutantes sempre foram temidos e odiados.
Ciclope sabe disso, e portanto segue um caminho que seria mais ou menos a evolução natural de uma espécie de fusão entre esses dois ideais, que se trata basicamente de "ser deixado em paz". Ele só quer que os mutantes sejam respeitados. Aceitos.
Um pensamento que conseguiu colocar toda a raça mutante no mesmo local, protegida, e que ganhou o respeito até mesmo do seu outrora inimigo: Magneto.
Sim, o mestre do magnetismo entendeu que Ciclope foi o único que verdadeiramente fez algo para proteger seu povo, ao contrário dele ou de Xavier, e resolveu dar uma passada em Utopia pra prestar suas homenagens a Scott se prostrando DE JOELHOS em sinal de respeito. Um cena até hoje muito controversa e polêmica, mas que serviu para demonstrar a que nível Ciclope havia chegado: o líder de seu povo. Uma cena que, como se não fosse grandiosa por si só, ainda tem o complemente de Ciclope dando um esporro no Professor Xavier.


Na saga Segundo Advento, em que temos o retorno de Esperança Summers, vemos um Scott ainda mais voltado para aquela questão da fé, e disposto a qualquer coisa para mantê-la viva. Durante o decorrer da saga vemos o líder mutante tomar todo tipo de atitude, algumas até mesmo desesperadas. Vários mutantes são mortos na guerra pela menina, outros são mutilados, o que acaba fazendo crescer uma insegurança e dúvidas entre os próprios X-Men sobre as consequências das decisões de Ciclope.
Ao fim da saga, ele mesmo tem dúvidas se aquilo valeu a pena. Se todas aquelas vidas perdidas não foram em vão. E aqui temos o primeiro Ciclope estava certo, pois é revelado que Esperança Summers é uma possível hospedeira para a Fênix e seus poderes trouxeram o surgimento de cinco novos mutantes. O panorama estava mudando, e Esperança era mesmo uma peça crucial na salvação da espécie mutante.


E é aqui que começa o problema. Na saga Vingadores vs X-Men, Scott está treinando Esperança para receber a força Fênix que está a caminho da Terra, pois ele acredita que a entidade pode funcionar como uma força de renascimento que ao tomar Esperança como hospedeira, ativaria o Gene X adormecido salvando a população mutante.
Porém os Vingadores acreditam exatamente no contrário, que a Fênix irá se unir à Esperança e causar a destruição da Terra. E o que os "maiores heróis da terra" fazem? Invadem Utopia dispostos a levar a garota à força se necessário. Seria mais ou menos como se polícia invadisse a sua casa e levasse o seu filho alegando que ele "pode" se tornar um criminoso.

 Ciclope, é claro, não aceita e assim começa a guerra entre as duas equipes, que culmina em Tony Stark tentando destruir a Fênix com uma de suas armaduras e piorando a situação, ao dividir a entidade em cinco partes, que acabam possuindo Ciclope, Namor, Colossus, Magia e Emma Frost.
Possuindo o poder de "deuses", o Quinteto Fênix passa a resolver todos os problemas do mundo, como criminalidade, fome e seca, o que incomoda os Vingadores, que ficam esperando os X-Men fazerem alguma bobagem.
E isso só acontece por culpa dos próprios Vingadores, que invadem Utopia e sequestram Esperança, promovendo uma caça dos X-Men à sua procura. A partir daqui os X-Men realmente começam a fazer besteira, sofrendo influência da força Fênix e agindo como ditadores. Ciclope surta a tal ponto que na batalha final contra os Vingadores ele acaba matando o seu mentor e amigo, Charles Xavier. Mas é importante frisar que ele faz isso por estar dominado pela Força Fênix. E por não estar preparado para isso, por não ser um hospedeiro ideal como a Esperança seria, sua mente acabou sendo corrompida. E por culpa de quem? Dos próprios Vingadores e de Tony Stark, que naquela tentativa falha de destruir a Fênix acabaram a dividindo e pegando os X-Men como hospedeiros.


O pior de tudo é que ao final da saga, após expulsarem a Fênix do corpo de Ciclope, Esperança é finalmente possuída pela entidade, se tornando a Fênix Branca. E o que ela faz ? Reativa o gene mutante adormecido por Wanda no Dia M e novos mutantes começam a aparecer aos montes em todos os cantos do mundo. A Fênix age realmente como uma força de renascimento, exatamente como o Ciclope acreditava. Ele ESTAVA CERTO.

 Ou seja, se desde o início os Vingadores tivessem deixado o Scott lidar com a sua situação mutante, (ou até se unido a ele, ajudando a preparar a Esperança, como foi feito em Kun-Lun) ao invés de invadirem a ilha do cara como uma força policial, talvez nada daquilo tivesse acontecido. Esperança teria tempo para se preparar, Xavier não morreria, e a guerra seria evitada.

Sendo assim, acho muita hipocrisia dos Vingadores (principalmente do Capitão América) tratarem o cara como criminoso e culpado, sendo que nunca haviam movido um dedo para ajudar o povo mutante. Ciclope sozinho uniu a sua raça, e os Vingadores se achando os donos do mundo, o derrubaram.

Após ser preso, desencadeando o movimento Cyclops was Right, Ciclope foge da cadeia com a ajuda de Magneto e se torna o novo rosto da revolução mutante. O ato de cruzar os braços formando um X se torna um símbolo copiado por milhares de mutantes pelo mundo, que apoiam as ideias do revolucionário e líder dos X-Men. São tempos de guerra, e Ciclope já aprendeu há muito tempo (e agora mais do que nunca) que os mutantes só tem a si mesmos para se ajudarem e se protegerem



No mais, a verdade é que todos querem ser Ciclope: