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sexta-feira, 2 de maio de 2014

[Crítica] O Espetacular Homem-Aranha 2


Até hoje apenas dois filmes me trouxeram a sensação de estar assistindo a uma história em quadrinhos no cinema. Lendo um gibi na tela grande. O primeiro foi Vingadores, e o segundo foi O Espetacular Homem-Aranha 2

Assistir O Espetacular Homem-Aranha 2 foi como relembrar a infância. Aquela sensação boa de quando descobri os quadrinhos de super-heróis e me apaixonei por esse personagem tão complexo e ao mesmo tempo tão simples.

Esse cara, que com seus problemas e limitações, poderia ser qualquer um de nós (se tivéssemos poderes proporcionais à uma aranha, claro). Lembrei de tudo que me fez gostar do Homem-Aranha desde que tive contato com um gibi pela primeira vez. As piadinhas podres, o jeito de irritar os bandidos sendo chato e perturbado, aquele jeito do Aranha de ser babaca na medida certa.

Foi isso que eu vi nesse filme, que é com certeza o melhor do personagem, e o que ele foi mais bem retratado. É o Homem-Aranha dos quadrinhos sem tirar nem pôr. E é incrível como acertaram em tudo dessa vez, da personalidade ao uniforme, que está impecável e fiel aos quadrinhos, sendo além de bonito, muito funcional. Andrew Garfield como sempre, é perfeito como Peter Parker e como Homem-Aranha, mas aqui ele conseguiu ir mais além, ficando difícil até separar ator e personagem. Andrew incorporou tão bem o Aranha, que ele não precisa ficar arrumando motivo toda hora para ficar sem máscara como nos filmes anteriores, só para que o ator possa exibir o seu rosto.
Uma diferença primordial desse Homem-Aranha para o da trilogia anterior, e que acaba sendo o mais importante para uma construção tão perfeita, é que ele realmente se diverte sendo Homem-Aranha. Ele gosta daquilo, de estar entre os prédios, de balançar pelas teias, de ajudar. E isso é passado de uma forma clara para o público. É tudo diversão para o Homem-Aranha.
Claro que ainda há os dilemas, as limitações, tudo aquilo que faz do herói alguém tão humano. Ele ainda é um herói atormentado pela culpa. Um cara que nunca deixa de lembrar que foi responsável pela morte do tio, e que foi abandonado pelos pais. Porém ele não se deixa abalar, pois sabe que precisa servir de inspiração para toda a cidade. Como é citado em vários momentos do filme: O Homem-Aranha traz esperança.


E sendo o Homem-Aranha um herói que nos passa tanta humanidade, é importante ressaltar o quanto esse é um filme... humano. Mérito do diretor Mark Webb (500 Dias Com Ela), que sabe trabalhar primorosamente os relacionamentos dos personagens, e dos atores que estavam realmente muito empenhados em desempenharem bem o seu papel.
É impossível não se encantar com os diálogos entre Peter e Gwen, por exemplo. Que química! Que diálogos! Você, que ama alguém, você que está apaixonado ou que já amou, vai sentir o que eu estou falando. Se você não ama ninguém e é amargurado, e acha que romance é chato e só gosta de filme com porrada e ação, vai achar que isso é um demérito do filme. Mas aí é contigo. Seu amargurado. Aqui é só amor <3

O fato é que você acredita naquele casal, você acredita no amor. Claro que muito disso em parte é pelo fato dos atores Andrew Garfield e Emma Stone (essa fofa) serem um casal na vida real, o que dá ainda mais vida às cenas dos dois.
O relacionamento dos dois personagens é muito bem trabalhado durante todo o filme, e você não apenas acredita, como também torce pelo casal, que durante o filme acaba tendo alguns problemas. Peter decide não continuar com Gwen devido à promessa que fez ao seu pai no leito de morte,  por achar que estando com ele, a garota estaria sempre em perigo. Após o término do namoro, Gwen acaba disputando uma vaga para estudar em Oxford, que a obrigaria a ir morar na Inglaterra.
Mas os relacionamentos críveis e humanos do filme não se resumem apenas aos dois. O reencontro de Peter com Harry Osborn (Dane DeHaan) onde os dois retomam a amizade perdida, é tão bem construído que me fez esquecer o fato de Harry aparecer como um "amigo de infância" mesmo sem ter sido sequer citado no primeiro filme.

Dane DeHaan aliás, está EXCELENTE no papel. Já conhecia o rapaz pela sua atuação no ótimo Poder sem Limites, e aqui ele não faz diferente. Seu Harry Osborn é perfeito, indo da soberba de um menino riquinho à completa loucura típica dos Osborn. Ele convence como amigo, ele convence como vilão. Que me perdoe James Franco (o qual também admiro muito o trabalho) mas aqui temos o Harry Osborn definitivo.

Falando em vilão, Jamie Foxx também está muito bem como Electro, que é afinal o inimigo principal do Aranha no filme. Inicialmente um cara isolado e com graves problemas sociais, Max Dillon é um funcionário da Oscorp que se torna fã do Homem-Aranha após ser salvo, criando uma espécie de compulsão pelo herói. Compulsão essa que se torna ódio, pois após sofrer um acidente na Oscorp, que o torna feito de energia pura, Max vai parar no meio da Times Square ainda meio confuso e desnorteado, onde bate de frente com o aracnídeo e acaba acreditando que foi enganado pelo mesmo. É a partir daí que Max se sente especial pela primeira vez por poder fazer algo que o torna diferente e notado, tornando-se Electro.


Electro tem até uma trilha sonora própria, que toca SEMPRE, eu disse SEMPRE que ele aparece. A trilha do filme como um todo é muito boa, e é o tipo de trilha sonora que além de ser marcante e ficar na sua cabeça muito tempo após o filme, ainda ajuda a contar a história. Acho isso bom. Há quem não goste, mas eu particularmente acho interessante quando a trilha vai caminhando junto com o filme. Mesmo que seja uma insistente como foi aqui.

A trama dos pais de Peter Parker, que vinha desde o primeiro filme sendo alardeada como "a história não contada" não teve tanto foco aqui. A impressão que ficou é que quiseram aparar as pontas soltas de uma vez, preparando terreno para o terceiro filme sem ficar arrastando isso por mais tempo. O "segredo" é revelado de forma rápida, e até mesmo simplória, mas que não compromete o filme. É apenas algo que precisava ser resolvido para que a história continuasse.
Particularmente achei boas as explicações dadas. Não apenas porque amarraram todas as pontas soltas convenientemente, costurando a doença dos Osborn, o sangue do Peter, o trabalho de seu pai e até o veneno das aranhas. Mas também porque para mim foi plausível. Eu comprei a ideia. Achei que a ideia passada, do Homem-Aranha estar meio que destinado a tudo aquilo, foi algo que só complementou a mitologia do personagem.

O interessante do filme, é que ele caminha de forma crescente até o seu clímax. Não há quebras na narrativa ou algum momento onde ele esfria. Simplesmente o caminho vai sendo preparado para a cena final, onde após a derrota de Electro, ainda temos uma rápida luta do herói contra um alucinado Harry Osborn (que devo dizer, em nenhum momento se intitula ou é chamado por alguém como Duende Verde) que quer vingança. DeHaan, novamente, está perfeito. Aqui é o seu ápice. Sem a típica máscara dos quadrinhos, cabe ao ator passar toda a loucura que a mesma representa, usando apenas sua expressão facial, e o rapaz não decepciona. Ouso dizer que chega a dar medo. E a risada do "Duende" é no mínimo macabra e sim, é assustadora. O fato de apenas escutarmos a risada enquanto o planador se aproxima ajuda a criar uma tensão que a cena exige.
E A GWEN TÁ ALI, CARA!
O leitor de quadrinhos esperto já percebe nessa cena o quanto isso é simbólico e perigoso. Aranha, Duende, Gwen.
A cena que se segue é alucinante, com uma tensão e angústia tão grandes que deixa qualquer um que estiver assistindo  nervoso e com o coração disparado. Por mais que o seu coração queira negar a verdade, é inevitável não prestar atenção nos fatos. E eles estão ali a todo momento, desde que a Gwen aparece usando esse casaco verde com a saia roxa. E o que estava ali tão óbvio, realmente acontece.


Toda a sequência é MUITO bem trabalhada. Apesar das diferenças para a obra original e as adaptações necessárias para adequar a cena ao cinema, a morte de Gwen Stacy ainda assim é muito fiel aos quadrinhos.

Se for parar para analisar, está tudo ali. O Duende causando a queda, o Homem-Aranha desesperado por ver sua amada em perigo mortal, e a teia que não chega ao seu destino a tempo.
A cena em que Peter chega a seu corpo e constata sua morte sem querer acreditar, é muito fiel, possui a mesma carga dramática e praticamente o mesmo diálogo da clássica história escrita por Gerry Conway. Apesar de sentir muito a morte de uma personagem tão boa e que durante esse filme estava melhor do que nunca, meu espírito nerd ficou satisfeito em ver uma cena tão clássica, simbólica e importante na vida do aracnídeo ter sido tão bem adaptada. Assim como nos quadrinhos, é isso que vai moldar o Aranha a partir daqui, tanto quanto a morte do Tio Ben.

Ao sair do cinema, a sensação que eu tive foi de alguém realizado. Vi meu herói ser retratado com dignidade, como nunca antes. O Homem-Aranha de toda uma geração está consagrado finalmente, e toda pessoa que ver o rosto de Andrew Garfield saberá que aquele ali é o Peter Parker de verdade. O Peter Parker que vale.
A cena final do filme com o garotinho-aranha não é nada menos que SENSACIONAL. É a que melhor resume e define o que é o Homem-Aranha.
Um cara que transforma as suas tragédias em vitórias. Que faz com que os fracos se tornem corajosos. Um herói que traz esperança e nos inspira.

O Espetacular Homem-Aranha