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sábado, 24 de maio de 2014

[Crítica] X-Men: Dias de um Futuro Esquecido


Com a qualidade dos filmes de super-herói cada vez alcançando níveis mais altos, a Fox não poderia fazer feio com o seu X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. E não fizeram. Muito pelo contrário.

Ok, eu estava com o pé atrás com essa retomada dos mutantes pelo Bryan Singer. Não só eu, como muita gente. Isso graças a um trailer fraco, caracterizações meia-boca, e notícias a respeito da trama que só faziam abaixar mais ainda a expectativa a cada nova informação.

O último trailer divulgado pela Fox havia aumentando um pouco as esperanças, mas ainda assim fui assistir X-Men: Dias de um Futuro Esquecido com um hype quase no chão. E talvez isso tenha sido o melhor, afinal. Porque fui surpreendido.
O filme não é apenas ótimo, como é o melhor filme dos mutantes até aqui.
É importante deixar bem claro que apesar do subtítulo, o filme não tem nada a ver  com a história em quadrinhos de mesmo nome escrita por Chris Claremont em 1981, pegando apenas o seu nome emprestado por usarem de um tema em comum: viagem no tempo. Portanto, ir ao cinema procurando alguma espécie de fidelidade à HQ (e reclamar da falta disso) é no mínimo burrice. Ou má vontade com o filme.
Apesar de começar mostrando um futuro distópico com o elenco da trilogia original, o longa se mostra uma continuação direta de X-Men: Primeira Classe, se passando na maior parte do tempo em 1973, dez anos após os acontecimentos deste. Na trama, no ano de 2023, humanos e mutantes são mantidos em campos de concentração, sendo caçados por versões atualizadas dos robôs Sentinelas. Nesse futuro, Kitty Pryde (Ellen Page) acaba desenvolvendo uma mutação secundária que permite que ela envie a mente de alguém pelas barreiras do tempo, o colocando em seu corpo em algum lugar do passado.

Assim, ela utiliza Bishop (Omar Sy), o enviando sempre algumas semanas antes dos ataques dos Sentinelas, para prever os locais onde eles ocorrerão.
Porém, Magneto (Ian McKellen) e Charles Xavier (Patrick Stewart) tem uma ideia mais ousada ao saber dessa habilidade: enviar alguém para 1973, ano em que Mística (Jennifer Lawrence) assassinou o criador das Sentinelas, Bolívar Trask (o sempre excelente Peter Dinklage), e impedi-la. Pois ao ser capturada em seguida, ela foi dissecada, e uma pesquisa com seu DNA atualizou os Sentinelas, tornando-os as máquinas imparáveis que são nesse futuro.
Como Kitty alega que uma transferência para tão longe destruiria qualquer mente, eles decidem enviar Wolverine (Hugh Jackman pela sétima vez no papel que o consagrou), que afinal se regeneraria na mesma velocidade. E assim Logan acorda em 1973, com a missão de encontrar os jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Erick Lehnsherr (Michael Fassbender) para impedir que Mística assassine Trask, o que acarretaria nos eventos que criaram o seu futuro apocalíptico.

Era um medo geral, de que Wolverine fosse novamente o protagonista do filme, como na trilogia anterior. Muito disso devido ao destaque que Hugh Jackman vinha tendo nos cartazes e nos trailers, somado ao fato de todos os filmes anteriores (com exceção do Primeira Classe) terem girado em torno do personagem.
No entanto, não é o que acontece aqui.
Wolverine tem sim, uma participação de muita importância no filme, mas fica nisso. Ele não toma a frente de tudo e nem resolve todos os problemas. Todos os personagens tem tempo para crescerem em tela e serem bem trabalhados. Mas quem rouba a cena mesmo são os jovens Xavier, Magneto e Mística. O filme é deles. Os momentos mais dramáticos e com todo o clímax giram em torno deles. E James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence estão excelentes no filme, o que já era esperado.

Agora, uma grata surpresa foi Evan Peters como Pietro Maximoff, o Mercúrio. Aliás, Peter Maximoff, pois é assim que ele é chamado no filme, sabe-se lá por qual motivo. Provavelmente alguma coisa a ver  com a divisão de direitos do personagem entre Marvel Studios e Fox.
De longe o mais criticado pelos fãs durante a divulgação, principalmente pelo seu visual um tanto quanto esquisito, Evan Peters calou a boca de muita gente. A sequência da fuga de Magneto da prisão, que conta com uma SENSACIONAL cena mostrando todo o potencial de Mercúrio, não é apenas a melhor cena do filme, mas também uma das melhores cenas de filmes de quadrinhos em geral.


Outras reclamações que eu via muito por aí afora, eram a respeito do Fera (Nicholas Hoult) poder se transformar e voltar à forma humana (algo como um efeito Hulk), e o grande ponto de interrogação que havia em torno do fato de Xavier estar andando. Isso também me incomodava bastante, mas ambas tem uma ótima explicação no filme. Uma explicação plausível e que pelo menos para mim fez todo o sentido. Me deixou satisfeito. É um filme de gibi afinal, e é o tipo de situação que acontece direto nos gibis.

Em certos momentos do filme, principalmente perto do seu final, a trama intercala entre passado e futuro, mostrando também a batalha dos mutantes de 2023 contra os Sentinelas. A troca de tempo funciona muito bem, e ajuda a criar uma tensão maior sobre o quanto está em jogo se não conseguirem modificar o passado. As lutas no futuro são incrivelmente bem feitas, com destaque para os efeitos dos portais da mutante Blink (Bingbing Fan), que ficaram sensacionais. O elenco clássico e o núcleo do futuro tem poucas cenas na verdade, mas que estão entre as melhores do longa. Principalmente as batalhas mortais contra os Sentinelas.
Outro ponto que notei, é que pela primeira vez deu para perceber o dedo do Mark Millar (que afinal é consultor da Fox nos filmes do universo Marvel).


Quem já leu Ultimate X-Men (a melhor versão dos mutantes na minha humilde opinião) vai perceber que a cena em que Magneto muda a programação dos Sentinelas e surge rodeado por eles é completamente retirada do primeiro arco dessa HQ, escrita por Millar. E não só essa cena, mas também a que Erik chega em frente a Casa Branca e encara o presidente, controlando várias câmeras e armas, é uma adaptação mais branda de um acontecimento desse mesmo arco.

A diferença é que na HQ Magneto põe fogo na Casa Branca, na bandeira dos EUA e deixa o presidente nu aos seus pés. Normal para um quadrinho do Millar, mas doentio demais para um filme. Mas ainda assim a cena possui essas referências, e acho válido citar.
O Magneto de Michael Fassbender aliás, lembra muito essa versão Ultimate. Um Magneto muito mais terrorista e com uma visão deturpada da "superioridade mutante". Um cara que está disposto a fazer qualquer coisa pelos seus ideais, inclusive matar aliados.
Com todo respeito a Sir Ian McKellen, o qual admiro muito o trabalho não apenas como Magneto mas em todos os seus icônicos personagens, mas Michael Fassbender depois desse filme se consagrou como o Magneto definitivo nos cinemas.
E na verdade, o filme basicamente de trata disso. Uma passagem de bastão. Com esse filme, Bryan Singer conseguiu consertar os erros cronológicos (ou pelo menos a maioria deles), e deixar o terreno preparado e limpo para uma nova geração de X-Men reinar nos cinemas. Não é que os três primeiros filmes tenham "deixado de valer" como tenho visto algumas pessoas dizendo, mas sim foram cronologicamente "consertados" no final de Dias de um Futuro Esquecido. Um final que eu encarei como um presente para os fãs.
Foi como se Bryan Singer estivesse se desculpando pelo péssimo final de X-Men: O Confronto Final, e dando o final que ele daria se tivesse dirigido o filme. Ao final do longa ficamos com a sensação de que aquela trilogia teve sim um final feliz, e finalmente pôde descansar em paz. Foi o final mais satisfatório que já vi em um filme de herói. Saí do cinema com uma sensação de satisfação.

Agora é esperar (e dessa vez com uma expectativa alta) o próximo filme dos mutantes, que se chamará X-Men: Apocalypse e será novamente dirigido por Bryan Singer. A cena pós-créditos já nos deu uma ideia do que esperar, e ELE está chegando...


O universo dos X-Men nos cinemas acaba de criar um novo fôlego, e pelo visto podemos esperar muita coisa boa vindo dessa nova cronologia criada do zero, com atores sensacionais e  inúmeras possibilidades.